"-Iracema te acompanhará, guerreiro branco; porque ela já é tua esposa.
Martim estremeceu.
-Os maus espíritos da noite turbaram o espírito de Iracema.
-O guerreiro branco sonhava, quando Tupã abandonou sua virgem. A filha do pajé traiu o segredo da jurema.
O cristão escondeu as faces à luz.
-Deus!...-clamou seu lábio trémulo.
Permaneceram ambos mudos e quedos.
Afinal disse Poti:
-Os guerreiros tabajaras despertam.
O coração da virgem, como o do estrangeiro, ficou surdo à voz da prudência. O sol levantou-se no horizonte; e seu olhar majestoso desceu dos montes à floresta. Poti de pé, mudo e quedo, como um tronco decepado, esperou que seu irmão quisesse partir."
Iracema, José de Alencar, página 69
Nesta obra-prima de Alencar, a protagonista Iracema é um personagem que se torna em uma força supernatural pelas descrições do autor. Esta passagem mostra que efeito o amor entre o guerreiro branco Martim e a índia tabajara Iracema. No primeiro momento que Martim sabe que já consumiram seu amor ele simplesmente se esconde, grita em incredulidade e treme. Iracema é descrita como muda, queda e com um coração surdo. Poti é descrito como um tronco decepado; um símile representante de como seu relacionamento com o guerreiro branco fê-lo separar da natureza. Iracema, a representação humana da natureza, também está morrendo com relação à natureza. Ela está muda, mas a floresta sempre tem o barulho de insectos e animais. Iracema está queda também, mas a selva sempre está se movendo, crescendo e transformando. O coração de Iracema é a natureza e ela sendo filha do pajé escuta a voz do mato. Como surda de coração, ela perde sua característica predominante e distintiva de escutar a voz da terra. Os europeus quebraram o espírito naturalista puro que existia entre os primeiros habitantes do Brasil e Alencar tem como propósito convencer o leitor da união que os antepassados do país tinham com a natureza antes da contaminação europeia. É um pedido para o novo país do Brasil voltar à reverência da natureza.
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