Quando voltei à casa era noite. Vim depressa, não tanto, porém, que não pensasse nos termos em que falaria ao agregado. Formulei o pedido de cabeça, escolhendo as palavras que diria e o tom delas, entre seco e benévolo. Na chácara, antes de entrar em casa, repeti-as comigo, depois em voz alta, para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu: "Preciso falar-lhe, sem falta, amanhã; escolha o lugar e diga-me". Proferi-as lentamente, e mais lentamente ainda as palavras sem falta, como para sublinhá-las. Repeti-as ainda, e então achei-as secas demais, quase ríspidas,e, francamente, impróprias de um crinaçola para um homem maduro. Cuidei de escolher outras e parei.
Afinal disse comigo que as palavras podiam servir, tudo era dizê-las em tom que não ofendesse. E a prova é que, repetindo-as novamente, saíram-me quase súplices. Bastava não carregar tanto, nem adoçar muito, um meio-tmero. "E capitu tem razão", pensei, "a casa é minha, ele é um simples agregado... Jeitoso é, pode muito bem trabalhar por mim, e desfazer o plano de mamãe."
(Cápiltuo XIX página 79 Dom Casmurro Machado de Assis)
Nooso narrador, Bento, ao mostrar sua determinação de evitar ser padre, está querendo mostrar ao leitor que desde criança ele tinha um amor a Capitu que o causava a fazer tudo ao redor dela. Mas, na realidade, ele mostra o seu lado calculativo, frio e manipulativo. Isto reflete muito ao jeito que está apresentando os fatos da estória. Será que está fazendo igual a nós que fez com José Dias.
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