"Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia"
- de Sabiá por Tom Jobim e Chico Buarque
A gente sempre sente saudade das coisas e começa a romantizá-las. Há duas formas de romantização; primeiro, a pessoa quer que as coisas voltem a ser como já foram, e segundo, a pessoa deseja passar pelas mesmas experiências com emoções e resultados semelhantes aos do passado, mas agora muito tempo depois. Este poema ilustra como que uma pessoa tenta se convencer do segundo tipo de saudade. A voz poética diz "o meu lugar foi lá e é ainda lá", mas só porque algo já foi não garante que continue sendo. A repetição de "vou" e "sei que ainda vou" retrata a falta de confidência que a voz poética tem em suas próprias convicções, assim como a frase "de um palmeira que já não há". Este poema serve como uma reflexão do desejo impossível da saudade de recriar o passado.
Oi Russ,
ReplyDeleteEu também gosto muito desta música de Chico Buarque e Tom Jobim. Toda vez que eu a ouço, eu penso nos anos difíceis da ditadura militar e ao mesmo tempo a grande fé e esperança dos artistas e escritores que enfrentaram o regime militar.
Para responder a sua postagem, não sei se estou convencido por seu argumento de que a repetição de "vou voltar" exprime uma "falta de confidência [sic] [acho que quer dizer confiança]". N minha leitura eu chego aliás a uma conclusão oposta—que esta música (embora melancólica) exprime a ideia de uma fé no possível retorno futuro ao país.
Bom—vamos continuar com a conversa e as leituras.