Wednesday, February 23, 2011

Uma Conversa de Tradução

           Na conversa de tradução com Adriana Lisboa, ela falou muito a respeito de ser tradutora.  A palavras dela que me chamaram mais atenção foram as estatísticas de textos traduzidos no Brasil e nos Estados Unidos.  80% das publicações brasileiras são traduções para o português, enquanto que somente uma pequena fração das publicações nos Estados Unidos são traduções.  Isto pode dizer algo da sociedade estadunidense; talvez estamos deixando de lado as experiências e opiniões do resto do mundo, talvez que nós nos achamos mais importantes ou talvez os americanos simplesmente não podem se relacionar muito bem com vozes estrangeiras.  Todavia, esta estatística não leva à consideração de que muitas das publicações em inglês são escritas de autores que são nativamente falantes do outros idiomas e de cidadania estrangeira.  Sejam quais forem as razões por isto, é claro que nos Estados Unidos os tradutores têm uma grande responsabilidade de representar bem a arte de tradução, porque havendo pouca tradução, todo trabalho é considerável.

A Definição Percebida e Irreal

"Menino perdido, menino de engenho."

-Menino de Engenho de José Lins do Rego página 141 capítulo 40

            Estas são as últimas palavras do narrador no romance.  O narrador se identifica como menino do engenho, mas ele está a caminho à escola.  Então não morará mais no engenho.  Também, não nasceu do engenho, os pais não moram no engenho e nem tem laços afetivos como os parentes no engenho.  Em adição, ele não é igual aos outros moleques do engenho; ele não é filho de ex-escravos, não é trabalhador do engenho, não tem responsabilidades no engenho e não responde pelos pecados e maldades feitos no engenho.  O narrador Carlinhos não é um menino do engenho.  Porém, ele idealiza a sociedade dos negros no engenho e quer fazer parte desta hierarquia, sem entender de verdade como se funciona.  O narrador sempre se achou solitário no engenho, e ao refletir no seu estado de conhecimento sexual ele chega à conclusão de que está perdido.  Ele conclui que como os meninos do engenho também lhe parecem perdidos, ele é faz parte deste círculo social.  Na verdade, ele simplesmente quer se encaixar num grupo.  A auto-definição do narrador é uma reflexão da atitude da classe média e alta.  Eles se identificavam com o grupo marginalizado dos ex-escravos, mas na realidade são muito diferentes.

Thursday, February 10, 2011

Nas Mãos do Narrador

"No quarto, desfazendo a mala e tirando a carta de bacharel de dentro da lata, ia pensando na felicidade e na glória.  Via o casamento e a carreira ilustre, enquanto José Dias me ajudava calado e zeloso.  Uma fada desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: "Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz."'


-do romance Dom Casmurro de Machado de Assis, página 190, capítulo C


         Esta é uma passagem essencial no romance porque esta é a introdução de um novo personagem, Bento.  Até então na história, o protagonista era Bentinho, o menino que não tinha uma palavra sequer em como sua vida andaria.  Desfazendo a mala simbólica de maioridade e responsabilidade, agora o homem Bento é o protagonista do narrador.  Terminou sua longa jornada de alumbramento e auto-descoberta, representada pela carta de bacharel.  Com confiança e grandes expectativas, Bento tem uma visão de um casamento feliz e uma carreira desafiadora e recompensadora.  Porém, o Bentinho ainda existe dentro do âmago de Bento, com uma imaginação ativa e infantil, criando fadas semelhantes as de Macbeth falando-lhe.  O que vai acontecer com a influência de Bentinho na vida de Bento?  Ele continuará com os mesmos ciúmes e inseguranças?  Será que ele vai assumir o trono masculino da família e ser feliz?  Ou ele está se dizendo que será feliz por falta de segurança?  A sombra do narrador Dom Casmurro alcançou uma bifurcação na estrada da vida e agora vai a navegar.  A questão mais importante é: Dom Casmurro vai a navegar fielmente como a memória dita, ou há de desviar o leitor do bom caminho em favor de um que seja mais vantajoso?

A Morte Intempestiva do Brasil

"Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
              Ao passo que nós
              O que fazemos
              É macaquear
              A sintaxe lusíada
 A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
 Terras que não sabia onde ficavam


Recife...
                  Rua da União...
                                               A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade


Recife...
                Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô."


-do poema Evocação do Recife de Manuel Bandeira


    Durante este poema, o poeta está se lembrando da juventude ao crescer em Recife.  É saudade de uma época paradisíaca, não uma época sem tristeza, mas uma época de identidade para o Recife.  Ao descrever a influência e imitação "lusíada" entre a sociedade, o poeta faz comparações com a morte.  Ele escreve, Foi há muito tempo... A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros".  Antes de "macaquear" a cultura europeia, a vida estava com ele, mas agora é uma coisa distante, vai e vem, e Recife, bom e brasileiro, morreu.  Este poema é uma crítica da obsessão com Portugal, e por extensão, a Europa e outros países em geral.  Recife, representando o Brasil, não ganha em virar a olhar fora, mas só progride com olhos fitos ao povo, com a "língua errada" e "fala gostoso".