"No quarto, desfazendo a mala e tirando a carta de bacharel de dentro da lata, ia pensando na felicidade e na glória. Via o casamento e a carreira ilustre, enquanto José Dias me ajudava calado e zeloso. Uma fada desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: "Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz."'
-do romance Dom Casmurro de Machado de Assis, página 190, capítulo C
Esta é uma passagem essencial no romance porque esta é a introdução de um novo personagem, Bento. Até então na história, o protagonista era Bentinho, o menino que não tinha uma palavra sequer em como sua vida andaria. Desfazendo a mala simbólica de maioridade e responsabilidade, agora o homem Bento é o protagonista do narrador. Terminou sua longa jornada de alumbramento e auto-descoberta, representada pela carta de bacharel. Com confiança e grandes expectativas, Bento tem uma visão de um casamento feliz e uma carreira desafiadora e recompensadora. Porém, o Bentinho ainda existe dentro do âmago de Bento, com uma imaginação ativa e infantil, criando fadas semelhantes as de Macbeth falando-lhe. O que vai acontecer com a influência de Bentinho na vida de Bento? Ele continuará com os mesmos ciúmes e inseguranças? Será que ele vai assumir o trono masculino da família e ser feliz? Ou ele está se dizendo que será feliz por falta de segurança? A sombra do narrador Dom Casmurro alcançou uma bifurcação na estrada da vida e agora vai a navegar. A questão mais importante é: Dom Casmurro vai a navegar fielmente como a memória dita, ou há de desviar o leitor do bom caminho em favor de um que seja mais vantajoso?
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