Thursday, April 7, 2011

"Apesar de sus esforços, AC percebia que estava condenado à prisão de sua própria personalidade, de sua própria língua, de sua própria circunstância."


-Entre Dois Mundos por Francisco Maciel

Sunday, April 3, 2011

Aí começou a abusar da mais velha, agora de-maior, mas na época treze anos. Enfezada, despejou álcool nas partes, riscou cabeça de fósforo, o fogo ardeu a vizinhança, salvou os filhos, mas o tal, aquele, em sonhos de crack torrou, carvão indigente.


"tão feliz tão lindo tão companheiro tão querido tão inteligente tão amoroso
meu deus por quê que ele foi fazer isso meu deus por quê"


-Eles eram Muitos Cavalos de Luiz Ruffato páginas 20 e 21

A Re-Definição das Artes

"...não batemos na porta para alguém abrir, nós arrombamos a porta e entramos."


"Boa leitura, e muita paz se você merecê-la, senão, bem-vindo à guerra."


-Terrorismo literário de Ferréz


"Na direita trago um livro e na esquerda um revólver."


-Colombo, pobrema, problemas de Gato Preto

Literatura marginal é, como Ferréz descreve, um tipo de terrorismo de arte.  O protagonist de Gato Preto traz um revólver para matar, roubar, estuprar, ou alguma outra crime grave?  Não.  A guerra e a arma mencionadas são para forçar os que marginalizam a ler e perceber: "[eles] ainda [têm] uns hectares de humanidade" (Preto), mesmo que seja o único bem que têm.  A maioria vivendo "perto do lixo" (Ferréz) é a verdadeira voz do país, o padrão imutável que mantém suas raízes e cultura e arte.  Eles vão tomar as artes à força e por isso fazem guerra e andam com armas.

A Maior Barreira do Autor

"O que escrevo é mais do que invenção, é minha obrigação contar sobre essa moça entre milhares delas.  E dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida.
Porque há direito ao grito."


"Devo registrar aqui uma alegria.  É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade que era inexplicável: no cais do porto viu um arco-íris.  Experimentando o leve êxtase, ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício.  Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo.  E quer mas sem direito algum, pois não é?"


- A Hora da Estrela de Clarice Lispector, páginas 13 e 35

O narrador d'A Hora da Estrela, Rodrigo, diz por obrigação que a pobre nordestina Macabéa tem direito de ser escutada, juntamente com as outras milhares de pobres nordestinas que se encontram em situações idênticas.  Porém, ao falar com o leitor e se perder em seus pensamentos verdadeiros, ele revela que de fato ela não tem direito nenhum.  Rodrigo é preso entre sua obrigação de sentir e ajudar de um lado e seus preconceitos e desgostos do outro lado.  Vemos que ele vê a pobre nordestina e sua classe como pessoas inferiores, usando até o diminutivo para descrevê-la.  Ele tem nojo das pequenas alegrias da classe pobre; nem para ver um arco-íris ele dá direito.  Por meio deste crítico humilhante, vemos que o único obstáculo que impede o autor de alcançar seu propósito de dá direito ao grito a Macabéa é ele mesmo.  Ele só poderá realizar seu objetivo se conseguir sobrepujar seu próprio eu.

Friday, March 18, 2011

Narrativa Metafísica

"Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino.  Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?"

-Clarice Lispector A Hora da Estrela página 15




       O narrador de A Hora da Estrela realmente é um personagem e é integrado em cada palavra do romance.  É sua narração que empurra o romance, não o enredo ou a suposta protagonista Macabéa.  Ele realmente tem um motivo em fazer deslindar a história porque ele está tentando responder esta pergunta a si próprio.  Ele é um monstro ou sente-se assim como uma pessoa?

Thursday, March 3, 2011

Uma Conversa da Literatura Brasileira

"O tema não é central, mas como a história é narrada."

-Adriana Lisboa

      A primeira palestra de Adriana Lisboa foi um tratamento das tendências contemporâneas da literatura brasileira.  Durante a sessão de perguntas, ela explicou alguns dos autores que mais a tocaram, particularmente com Machado de Assis sendo uma grande influência na sua experiência como leitora.  Ela também disse a citação em cima, que me tocou como um assunto central em toda a literatura.  A narração é tudo na literatura e uma história de qualquer enredo pode ser escrito.

A Região Negligenciada

"... o sangue que usamos tem pouca tinta."


-Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto

        O auto nordestino de Cabral é sobre a pobre situação do sertanejo ao procurar uma vida melhor.  Todos os sertanejos são iguais e, como esta voz coletiva de Severinos fala, o sangue deles não tem muita tinta.  Na aula falamos desta passagem, mas deixamos de considerar um aspecto.  O derramamento do sangue nordestino, ou sertanejo, não tem tinta porque não permanece marcado na memória da sociedade.  A morte sertaneja, ou severina, é passa despercebida pelo resto do país.  Esta passagem não está explicando a fisionomia dos nordestinos, mas é uma grande crítica do Brasil em geral.

Wednesday, February 23, 2011

Uma Conversa de Tradução

           Na conversa de tradução com Adriana Lisboa, ela falou muito a respeito de ser tradutora.  A palavras dela que me chamaram mais atenção foram as estatísticas de textos traduzidos no Brasil e nos Estados Unidos.  80% das publicações brasileiras são traduções para o português, enquanto que somente uma pequena fração das publicações nos Estados Unidos são traduções.  Isto pode dizer algo da sociedade estadunidense; talvez estamos deixando de lado as experiências e opiniões do resto do mundo, talvez que nós nos achamos mais importantes ou talvez os americanos simplesmente não podem se relacionar muito bem com vozes estrangeiras.  Todavia, esta estatística não leva à consideração de que muitas das publicações em inglês são escritas de autores que são nativamente falantes do outros idiomas e de cidadania estrangeira.  Sejam quais forem as razões por isto, é claro que nos Estados Unidos os tradutores têm uma grande responsabilidade de representar bem a arte de tradução, porque havendo pouca tradução, todo trabalho é considerável.

A Definição Percebida e Irreal

"Menino perdido, menino de engenho."

-Menino de Engenho de José Lins do Rego página 141 capítulo 40

            Estas são as últimas palavras do narrador no romance.  O narrador se identifica como menino do engenho, mas ele está a caminho à escola.  Então não morará mais no engenho.  Também, não nasceu do engenho, os pais não moram no engenho e nem tem laços afetivos como os parentes no engenho.  Em adição, ele não é igual aos outros moleques do engenho; ele não é filho de ex-escravos, não é trabalhador do engenho, não tem responsabilidades no engenho e não responde pelos pecados e maldades feitos no engenho.  O narrador Carlinhos não é um menino do engenho.  Porém, ele idealiza a sociedade dos negros no engenho e quer fazer parte desta hierarquia, sem entender de verdade como se funciona.  O narrador sempre se achou solitário no engenho, e ao refletir no seu estado de conhecimento sexual ele chega à conclusão de que está perdido.  Ele conclui que como os meninos do engenho também lhe parecem perdidos, ele é faz parte deste círculo social.  Na verdade, ele simplesmente quer se encaixar num grupo.  A auto-definição do narrador é uma reflexão da atitude da classe média e alta.  Eles se identificavam com o grupo marginalizado dos ex-escravos, mas na realidade são muito diferentes.

Thursday, February 10, 2011

Nas Mãos do Narrador

"No quarto, desfazendo a mala e tirando a carta de bacharel de dentro da lata, ia pensando na felicidade e na glória.  Via o casamento e a carreira ilustre, enquanto José Dias me ajudava calado e zeloso.  Uma fada desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: "Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz."'


-do romance Dom Casmurro de Machado de Assis, página 190, capítulo C


         Esta é uma passagem essencial no romance porque esta é a introdução de um novo personagem, Bento.  Até então na história, o protagonista era Bentinho, o menino que não tinha uma palavra sequer em como sua vida andaria.  Desfazendo a mala simbólica de maioridade e responsabilidade, agora o homem Bento é o protagonista do narrador.  Terminou sua longa jornada de alumbramento e auto-descoberta, representada pela carta de bacharel.  Com confiança e grandes expectativas, Bento tem uma visão de um casamento feliz e uma carreira desafiadora e recompensadora.  Porém, o Bentinho ainda existe dentro do âmago de Bento, com uma imaginação ativa e infantil, criando fadas semelhantes as de Macbeth falando-lhe.  O que vai acontecer com a influência de Bentinho na vida de Bento?  Ele continuará com os mesmos ciúmes e inseguranças?  Será que ele vai assumir o trono masculino da família e ser feliz?  Ou ele está se dizendo que será feliz por falta de segurança?  A sombra do narrador Dom Casmurro alcançou uma bifurcação na estrada da vida e agora vai a navegar.  A questão mais importante é: Dom Casmurro vai a navegar fielmente como a memória dita, ou há de desviar o leitor do bom caminho em favor de um que seja mais vantajoso?

A Morte Intempestiva do Brasil

"Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
              Ao passo que nós
              O que fazemos
              É macaquear
              A sintaxe lusíada
 A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
 Terras que não sabia onde ficavam


Recife...
                  Rua da União...
                                               A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade


Recife...
                Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô."


-do poema Evocação do Recife de Manuel Bandeira


    Durante este poema, o poeta está se lembrando da juventude ao crescer em Recife.  É saudade de uma época paradisíaca, não uma época sem tristeza, mas uma época de identidade para o Recife.  Ao descrever a influência e imitação "lusíada" entre a sociedade, o poeta faz comparações com a morte.  Ele escreve, Foi há muito tempo... A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros".  Antes de "macaquear" a cultura europeia, a vida estava com ele, mas agora é uma coisa distante, vai e vem, e Recife, bom e brasileiro, morreu.  Este poema é uma crítica da obsessão com Portugal, e por extensão, a Europa e outros países em geral.  Recife, representando o Brasil, não ganha em virar a olhar fora, mas só progride com olhos fitos ao povo, com a "língua errada" e "fala gostoso".

Thursday, January 27, 2011

O Narrador Parcial

     Quando voltei à casa era noite. Vim depressa, não tanto, porém, que não pensasse nos termos em que falaria ao agregado. Formulei o pedido de cabeça, escolhendo as palavras que diria e o tom delas, entre seco e benévolo.  Na chácara, antes de entrar em casa, repeti-as comigo, depois em voz alta, para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu: "Preciso falar-lhe, sem falta, amanhã; escolha o lugar e diga-me".  Proferi-as lentamente, e mais lentamente ainda as palavras sem falta, como para sublinhá-las.  Repeti-as ainda, e então achei-as secas demais, quase ríspidas,e, francamente, impróprias de um crinaçola para um homem maduro.  Cuidei de escolher outras e parei.
     Afinal disse comigo que as palavras podiam servir, tudo era dizê-las em tom que não ofendesse.  E a prova é que, repetindo-as novamente, saíram-me quase súplices. Bastava não carregar tanto, nem adoçar muito, um meio-tmero.  "E capitu tem razão", pensei, "a casa é minha, ele é um simples agregado... Jeitoso é, pode muito bem trabalhar por mim, e desfazer o plano de mamãe."

                                     (Cápiltuo XIX página 79 Dom Casmurro Machado de Assis)

Nooso narrador, Bento, ao mostrar sua determinação de evitar ser padre, está querendo mostrar ao leitor que desde criança ele tinha um amor a Capitu que o causava a fazer tudo ao redor dela.  Mas, na realidade, ele mostra o seu lado calculativo, frio e manipulativo.  Isto reflete muito ao jeito que está apresentando os fatos da estória.  Será que está fazendo igual a nós que fez com José Dias.

Thursday, January 20, 2011

O Amor Negligenciado

"-Quanto mais afunda a raiz da planta na terra, mais custa arrancá-la.  Cada passo de Iracema no caminho da partida é uma raiz que lança no coração de seu hóspede.
-Iracema quer te acompanhar até onde acabam os campos dos tabajaras, para voltar com o sossego em seu coração.
Martim não respondeu.  Continuaram a caminhar, e com eles caminhava a noite; as estrelas desmaiaram, e a frescura da alvorada alegrou a floresta.  As roupas da manhã, alvas como o algodão, aparecera no céu.
Poti olhou a mata e parou.  Martim compreendeu e disse a Iracema:
-Teu hóspede já não pisa nos campos dos tabajaras.  É o instante de separar-te dele."
                                   (Iracema, José de Alencar, página 69)


Na aula, falamos muito desta passagem e particularmente como se aplica ao personagem Martim.  Olhando novamente, esta citação diz muito mais a respeito de Iracema do que de Martim.  Com Iracema ou não, Martim vai continuar dando passos no novo mundo, mas Iracema somente está plantando novas raízes por sua causa.  Quando chegam ao limite da terra tabajara, é literalmente o fim do universo para Iracema.  Ela entra na desconhecida, com o guerreiro branco como sua única luz para iluminar o caminho.  Martim não reconhece o grande sacrifício dela.  Ele não mostra nenhuma emoção.  Isto é uma ilusão ao que vai acontecer entre eles em maior escala depois.  Iracema continuará a deixar tudo que ela conhece por ele, enquanto ele simplesmente volta a coisas já conhecidas, pelas quais tem saudade.  São os primeiros exemplos da falta de igualdade e ternura no relacionamento dos dois.  Como extensão da metáfora, é uma demonstração de como Brasil era uma grande latifúndio em relação a Portugal e a Europa inteira.

Tuesday, January 18, 2011

A Morte da Natureza no Brasil Colonial

"-Iracema te acompanhará, guerreiro branco; porque ela já é tua esposa.
Martim estremeceu.
-Os maus espíritos da noite turbaram o espírito de Iracema.
-O guerreiro branco sonhava, quando Tupã abandonou sua virgem.  A filha do pajé traiu o segredo da jurema.
O cristão escondeu as faces à luz.
-Deus!...-clamou seu lábio trémulo.
Permaneceram ambos mudos e quedos.
Afinal disse Poti:
-Os guerreiros tabajaras despertam.
O coração da virgem, como o do estrangeiro, ficou surdo à voz da prudência.  O sol levantou-se no horizonte; e seu olhar majestoso desceu dos montes à floresta.  Poti de pé, mudo e quedo, como um tronco decepado, esperou que seu irmão quisesse partir."
               Iracema, José de Alencar, página 69


Nesta obra-prima de Alencar, a protagonista Iracema é um personagem que se torna em uma força supernatural pelas descrições do autor.  Esta passagem mostra que efeito o amor entre o guerreiro branco Martim e a índia tabajara Iracema.  No primeiro momento que Martim sabe que já consumiram seu amor ele simplesmente se esconde, grita em incredulidade e treme.  Iracema é descrita como muda, queda e com um coração surdo.  Poti é descrito como um tronco decepado; um símile representante de como seu relacionamento com o guerreiro branco fê-lo separar da natureza.  Iracema, a representação humana da natureza, também está morrendo com relação à natureza.  Ela está muda, mas  a floresta sempre tem o barulho de insectos e animais.  Iracema está queda também, mas a selva sempre está se movendo, crescendo e transformando.  O coração de Iracema é a natureza e ela sendo filha do pajé escuta a voz do mato.  Como surda de coração, ela perde sua característica predominante e distintiva de escutar a voz da terra.  Os europeus quebraram o espírito naturalista puro  que existia entre os primeiros habitantes do Brasil e Alencar tem como propósito convencer o leitor da união que os antepassados do país tinham com a natureza antes da contaminação europeia.  É um pedido para o novo país do Brasil voltar à reverência da natureza.

Thursday, January 13, 2011

Sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque

"Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia"
                               - de Sabiá por Tom Jobim e Chico Buarque

A gente sempre sente saudade das coisas e começa a romantizá-las.  Há duas formas de romantização; primeiro, a pessoa quer que as coisas voltem a ser como já foram, e segundo, a pessoa deseja passar pelas mesmas experiências com emoções e resultados semelhantes aos do passado, mas agora muito tempo depois.  Este poema ilustra como que uma pessoa tenta se convencer do segundo tipo de saudade. A voz poética diz "o meu lugar foi lá e é ainda lá", mas só porque algo já foi não garante que continue sendo.  A repetição de "vou" e "sei que ainda vou" retrata a falta de confidência que a voz poética tem em suas próprias convicções, assim como a frase "de um palmeira que já não há".  Este poema serve como uma reflexão do desejo impossível da saudade de recriar o passado.